21/02/14

Tic-Tac-Tic-Tac-Tic-Tac... e um dia faz PUM!

Nunca fui à Suíça. Também nunca fui ao Luxemburgo. No Luxemburgo dizem-me que é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um luxemburguês ter sido lá nado e criado. Mais de 30% da população é de origem estrangeira e cerca de 16% portuguesa, o que talvez explique o facto de o 1º-ministro ter contratado uma empresa do Luxemburgo para lhe atender os telefones da casa de São Bento, na eventualidade de alguém lhe querer falar - e eu sei lá, há gente capaz de tudo! –, milagre da globalização e milagre do ajuste directo, neste caso à We Promote, detida pela Sociedade Comercial Silvas (Primos), S.A., detida, por sua vez, pela Finanter Incorporation, que, por sua vez... mas eu não sou de intrigas e também me chamo Silva: voltemos à bucólica Suíça.
Como dizia, nunca lá fui. Um amigo brasileiro com quem fui há muitos anos a Paris antes de eu ter ido com ele a Paris foi sozinho à Suíça. Louro e de olhos azuis, mais louro do que um suíço louro e com os olhos mais azuis do que um suíço de olhos azuis. Na altura, imperava a ditadura brasileira e o meu amigo vivia na Europa como refugiado político. Quando chegou à fronteira da Suíça, os suíços foram muito simpáticos porque pensaram que ele era um suíço louro & tal mas mal olharam para os documentos sentiram-se ludibriados porque ele era um selvagem brasileiro vindo do Rio Grande do Sul! Engavetaram o sorriso suíço e mandaram o meu amigo tirar as malas do carro. O meu amigo obedeceu civilizadamente e eis senão quando dá pelos guardas suíços com as manápulas enfiadas nos pertences, manuseando cuecas, camisolas interiores (por causa do frio da Europa...), lâminas de barbear e panfletos anti-fascistas. O meu amigo achou aquilo muito pouco civilizado e pensou em invocar a Convenção de Genebra. Lembrando-se que haviam sido os suíços a inventar o J dos passaportes judaicos, pediu-lhe que calçassem luvas. Os guardas, respeitadores da Lei, calçaram as luvas, vasculharam o que tinham a vasculhar e em seguida desmontaram peça a peça o carro do meu amigo que era um Mini amarelo no qual muitos anos depois, mas isso os suíços não o poderiam saber, haveríamos de ir os dois a Paris.
O meu amigo ficou com um grande pó aos suíços, incluindo o Alain Tanner que tinha feito “A Cidade Branca”. Eu o suíço de que mais gosto é do Robert Walser. E pronto. Para a semana talvez fale da Dinamarca, onde também nunca fui, mas que já me descreveram como sendo um país muito civilizado onde se matam girafas.

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